APELO A CONTRIBUTOS/CALL FOR PAPERS

Dossier: “Interseccionalidade, Comunicação e Cultura: (Entre)Cruzamentos de Matrizes de Opressão e Privilégio”.

Coordenação:  

Carla Cerqueira – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho e Universidade Lusófona do Porto

Sara Isabel Magalhães – Centro de Psicologia da Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto

Data de submissão – 30 de dezembro  (a publicar em maio 2017)

Os estudos de género e/ou feministas da comunicação e da cultura começam a apresentar uma forte consolidação na academia, quer a nível internacional, quer no contexto português. Nesta área de investigação é cada vez mais importante desconstruir uma categorização social que promove e reifica assimetrias de poder, o pensamento de um só eixo (single-axis) e universal de género (gender-universal), e procurar questionar matrizes de dominação e subordinação, de desigualdades e privilégios.

O dossier temático que aqui se apresenta tem como principal objetivo compilar propostas teóricas, metodológicas e empíricas focadas na área da comunicação e da cultura, assentes num posicionamento interseccional (Crenshaw 1991; Nogueira 2011, 2013; May 2014; McCall 2005). Esta perspetiva pretende enfatizar a existência de vários eixos de desigualdade, não se resumindo, assim, a uma mera adição de categorias, antes apontando para o entrecruzar com o género – ainda que não numa matriz hierarquizada (May 2014) – enquanto elemento político de promoção de igualdade, de cidadania e do sistema democrático (McCall 2005; Nogueira 2011, 2013).

Assim, este call for papers convida à submissão de propostas de diferentes áreas disciplinares, de âmbito nacional, internacional e/ou comparativo, que procurem rebater abordagens categoriais mais singulares e delimitadas, que manifestamente adoptam posturas de sub- ou sobre-inclusão grupal e que, assim, ignoram experiências concretas de indivíduos que se posicionam na intersecção de vários grupos sociais (Crenshaw 2002). Por conseguinte, pretende-se refletir sobre os estudos da comunicação e da cultura partindo de uma proposta ampla, teórica e política, que se propõe escapar às matrizes sociais que “sujeita[m] a interseccionalidade às formas epistémicas de dominação que pretende desconstruir” (May 2014, 95).  Destaca-se, por fim, a importância de olhar a comunicação e a cultura nas suas múltiplas variantes como elementos/instrumentos de desconstrução de hierarquias de “pessoalidade” (personhood) pela promoção de representações mais próximas das idiossincrasias individuais, mas também do estímulo a uma promoção da literacia para a diversidade sociocultural.

Enraizado numa perspetiva feminista contemporânea, que vai além das questões de homens e mulheres e que integra um “espectro muito mais amplo, pela sua hifenização [...] com outros movimentos e outras preocupações sociais e políticas” (Oliveira 2015, 75), este dossier temático da ex aequo procura dar voz e visibilidade a contributos que tenham como objeto de análise a interseccionalidade nos estudos da comunicação e da cultura.

Sem excluir à partida outros contributos no mesmo âmbito de trabalho, procuramos propostas que reflitam teórica, metodológica e empiricamente, nomeadamente:

  • Reflexões que perspetivem os estudos de género e feministas dos media na sua abertura à teoria da interseccionalidade.
  • Conceptualizações teóricas e metodológicas sobre a integração da teoria da interseccionalidade nos estudos da comunicação e da cultura.
  • Análises críticas, assentes na teoria da interseccionalidade, aplicadas aos vários eixos de produção comunicacional e de cultura (produção, representação e/ou recepção).
  • Comentários reflexivos de estruturas multideterminadas de opressão e privilégio e a sua potenciação nos/pelos media.
  • Relatos, mediatizados, de processos de visibilidade, “vocalidade” e significado face a matrizes, intra- e inter-categoriais, de privilégio e opressão.
  • Apreciações críticas de políticas públicas e/ou práticas profissionais de integração da diversidade pela/na produção mediática.
  • Posicionamentos interseccionais que reflitam sobre os usos e potencialidades da literacia mediática e cultural.
  • Estudos sobre movimentos e ações de contestação de hierarquias de poder multi-opressivas no âmbito da cultura e da comunicação.

 

Referências:

Crenshaw, Kimberlé. 1991. “Mapping the Margins: Intersectionality, Identity, Politics and Violence Against Women of Color”. Stanford Law Review 43: 1241-99.

Crenshaw, Kimberlé. 2002. “Documento para o encontro de especialistas em aspetos da discriminação racial relativos ao género”. Estudos Feministas 1: 171-188.

May, Vivian M. 2014. “'Speaking into the Void?’. Intersectionality critiques and Epistemic Backlash”. Hypatia 29(1): 94- 112. 

McCall, Leslie. 2005. “The complexity of intersectionality”. Signs 30(3): 1771-1800.

Nogueira, Conceição. 2011. “Introdução à teoria da interseccionalidade nos Estudos de Género”. In Sofia Neves (Eds). Género e Ciências Sociais, 67-78. Maia: Edições ISMAI.

Nogueira, Conceição. 2013. “A teoria da Interseccionalidade nos estudos de género e sexualidades: condições de produção de “novas possibilidades” no projeto de uma psicologia feminista crítica”. In: Ana Lídia Brizola et al. (Orgs) Práticas Sociais, políticas públicas e direitos humanos, 227-248. Florianópolis: Abrapso/Nuppe/CFH/UFSC.

Oliveira, João M. 2015. “Mil Géneros”. Vírus 7: 74-76.

Prazo de envio:

Envio de artigos, com escrupuloso cumprimento das normas da revista apresentadas em http://www.apem-estudos.org/pt/page/submissao-de-artigos, até 30 de dezembro, para o endereço apem1991@gmail.com. Os textos que não respeitarem as normas quanto à extensão, à formatação e ao modo de citar e referenciar as fontes bibliográficas serão excluídos numa primeira triagem antes de serem submetidos a arbitragem cientifica. No prazo de quatro semanas após a data limite de receção, as/os autoras/es receberão a informação sobre os resultados da primeira triagem e a passagem à etapa seguinte, isto é, da submissão, sob anonimato, à dupla arbitragem científica do texto. A data prevista de saída deste número é maio de 2017.